Nesta semana, uma entrevista inédita de Clara Nunes, resgatada pelo “Mofo Tv”, foi postada no canal do YouTube “Arquivo Marckezini”. Durante o bate-papo, Marília Gabriela perguntou com naturalidade à cantora como ela enxergava a censura “sendo uma mulher conservadora” – num tempo em que jornalistas lutavam contra a censura:
Foi nesse momento que me ocorreu uma pergunta: quando foi a última vez que um repórter me perguntou algo com o mesmo respeito? Questionamentos como “sendo uma deputada de direita, qual é a sua visão sobre o assunto X?”, raramente acontece. E, quando ocorre, não há espaço para que eu explique com clareza a lógica ou os dados que embasam minha opinião. O objetivo, na maioria das vezes, parece ser capturar um deslize, algum ponto fora da curva, um “CHECAMOS!”, só para me rotular de hipócrita, extremista, ou outros tantos “-istas” que se possa imaginar.
Por exemplo, se afirmo que as feministas tendem a transformar todas as mulheres em vítimas e todos os homens em predadores, logo aparecem vozes indignadas, me acusando de “agradar os homens machistas da direita”. Engraçado, não? Em outras épocas, essa crítica já foi feita por pessoas de viés oposto ao meu.
Se falo algo como “homens cozinham melhor que mulheres”, logo surge uma tempestade de críticas. E pensar que até a icônica cozinheira Ofélia – pioneira dos programas culinários – tinha uma opinião parecida…
Ao defender a atuação de policiais, me chamam de racista. Quando respondo, dizendo que não sou, imediatamente sou acusada de repetir o discurso padrão de algumas teses escritas por Silvio de Almeida, ex-ministro de lula.
E há mais: quando duvido de dados do IBGE, rapidamente me taxam de negacionista, embora jornalistas como Miriam Leitão já tenham expressado (no passado) ceticismo semelhante com o órgão.
Quando afirmo que sou contra projetos para transição de gênero de crianças, sou chamada de moralista – e isso em um país onde, até pouco tempo, o senso comum midiático considerava um absurdo que crianças se tornassem pais e mães.
E, se ouso me manifestar contra o aborto, logo espalham que “passo pano” para estupradores, sem se darem ao trabalho de entender minha visão sobre casos específicos. Não é diferente com Bolsonaro, que também é alvo do mesmo “afeto” direcionado a qualquer um que se atreva a discordar da agenda predominante, como confessou sem querer Gregório Duvivier, com sua peculiar hipocrisia:
Se defendo o direito de o cidadão se armar, a entrevista nem termina. A censura às minhas opiniões se torna quase automática.
Um convite à reflexão
Assumir-se de direita parece, por si só, uma autorização para que me rotulem como alguém que “não se importa com os pobres”.
Em tempo: ironicamente, o governo que mais tem prejudicado os vulneráveis é o de lula. Segundo o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), o governo federal não está executando nem mesmo os valores previstos para áreas essenciais de atendimento à população mais vulnerável. O estudo “Balanço semestral do Orçamento da União: janeiro a junho de 2024” analisou a execução orçamentária em nove áreas críticas, incluindo Educação, Meio Ambiente, Povos Indígenas e Igualdade Racial. Em alguns casos, sequer houve execução orçamentária entre janeiro e junho deste ano.
*Fonte*:- Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc): [Balanço Semestral do Orçamento da União](https://inesc.org.br/balanco-semestral-do-orcamento-da-uniao/).
Após assistir a entrevista de Clara Nunes, pensei: se vou conceder entrevistas daqui para frente, só farei com uma condição: Quero ser perguntada sobre o que penso como representante da direita e do conservadorismo e, mais importante, quero a chance de explicar o porquê das minhas opiniões.
Carla Zambelli